Eh grande, mas LEIAM este texto, foi escrito pela Mel. Inacreditavel sua sensibilidade, mesmo depois de anos sem contato. Obrigada por me fazer relembrar de coisas boas que se uniram.
"Se fosse pintar o que eu realmente estou sentindo agora pintaria esta tela toda de azul. Tudo bem, sentindo não. Nunca fui clichê, não vai ser agora.
Aqui do lado do telefone desde ontem à tarde esperando o P. ligar. E cadê que liga. Ai, porque não escolhi um pastor. Estaria aqui comigo, agora. Que azul, o quê. Pintaria a tela toda de vermelho, sou pura paixão agora e desde que ele saiu por esta porta eu não sei mais o que é azul.
Onde será que ele está agora? Voando? Navegando nesta imensidão azulada que se chama céu e onde eu gostaria de estar exatamente neste momento. Sozinha não, que não se vai para o céu sozinha. Deixo o vento tocar um pouco este rosto marcado pela saudade.
Não sabia que não sei viver sem você, viu. Juro que achei que pudesse dar conta assim umas setenta e duas horas. Por mais que os tempos sejam longos e não sei quando é que você vai bater na porta de novo. Mas de setenta e duas horas em setenta e duas horas vou tentando renovar meu estoque de garota forte.
Esta coisa de amor livre, livre são os aviões. Livre são as gaivotas, estas que você vê de cima. Vê? Você nunca me contou sobre isso! Quando você chegar vai me contar se vê os pássaros de cima e se voa mais rápido que eles? Nestas horas eu gostaria de ser um pássaro, pra apostar corrida contigo aí no alto! Brincando entre as nuvens brancas e parando para um algodão doce.
Olha o que faz a saudade! Juro que não toquei no vinho. Não toquei, sou pura água, água salgada que desce do olho agora. Vem o vento que agora até parece frio, vento cruel que só faz a gente lembrar que não está acompanhada por quem deveria.
Tem alguma coisa tocando no rádio, mas não sei mais o que é, estou longe. E quero estar o quanto mais puder para ver se chego perto de você. Mas regrido, amor. Vou lá em São Paulo, quando ainda era uma menina que aprontava e respondia para os passageiros.
Nunca vou esquecer do dia em que xinguei a moça nem sei do quê e ela estava ali, cravada no balcão do lado. Tem horas que a gente esquece que as paredes realmente têm ouvidos. Há há há há há...
O Vini que não sabia se ria ou se me matava. A Mel que ficou mais vermelha do que eu. Tinha acabado de entrar, coitada da Mel. Não sei como não saiu correndo! Correndo pra atender o Bruxelas que chegava abarrotado de gente aos domingos de manhã.
A Silvana se agarrando com o Cláudio na sala. Vamos, Silvana, não posso encarar isso sozinha. Coragem, ela respondia. Nunca conheci mulher nenhuma com xaveco melhor que o dela. "A gente prometemos que sua bagagem estará aqui até depois de amanhã e será entregue em vossa casa". "A gente" rimos muito, né, Sil.
Preenchendo mil relatórios com duas mil pessoas em volta, naquelas horas em que sentia vontade de anotar os palavrões novos que eu ouvia. O Gil todo calmo, chamando um senhor de uns sessenta anos de jovem. "Jovem, farei o que for necessário. Jovem, me empreste as etiquetas de bagagem. Jovem descreva-me sua mala". E o Claudinho vermelho, até hoje não sei se de raiva ou de vergonha na cara... o Bruxelas.
E a Mel lá no doméstico. Era sempre assim, a Mel-mascote no doméstico e a Drica no inter.
Um dia a gente trocou, a Mel foi pro inter. E a Drica foi pro doméstico, abrir o relatório cortesia do tripulante cuja mala não chegou. Lembra, P? Encostei na sua mão sem querer e você fez cara de bebê. Fiquei uma semana com os olhos cravados no sistema tentando achar a sua mala. E nada, e nada, e nada. Desculpe! Juro que fiz de tudo! Te compraria outra se pudesse! Aceito seu perdão ali no restaurante, se almoçar comigo. E o aeroporto ficou longe, muito longe. O mundo é mesmo uma loucura.
O gosto do rondelli no paladar até hoje. A blusa manchada de molho e o seu sorriso maravilhoso me travando tudo na garganta. Difícil de engolir, tinha que dar um gole grande de refri pra descer a comida. E até esqueci que não tomava refri! O encontro-desencontro, porque eu sabia que você ia sumir pelos quatro cantos do mundo e já tinha perdido as esperanças quando você caiu no meu colo aqui na América...
Agradeço a Mel até hoje por ter aturado o inter naquele dia, mesmo que eu tenha me consumido em paixão, alucinante, inexplicável, mesmo com o peito aqui ardendo em saudade... que cabeça se pode ter quando sou só coração? Escrever o quê? Qual a matéria de hoje? A saudade que mata? O avião do P? A gaivota? O sorriso? O rondelli? A Drica chorando na janela?
Se eu fosse pintar o que estou sentindo agora, seriam escassas toda a tinta do mundo, todas as cores e tonalidades... Deixo o pensamento voar e que ele chegue até você. Que ele leve a falta que você me faz, pra gente sentir frio juntos! Ah... Queria estar lá agora, em GRU. Onde todos os olhares se cruzam, só pros meus olhos cruzarem com os seus mais uma vez...
...volta logo".
By Melissa Brienda